Cláudio Musumeci nasceu em São Caetano do Sul, onde passou toda a sua vida. Estudou em escolas como: Externato Santo Antônio, Grupo Escolar Senador Fáquer (SCS) e na Escola de Comércio 30 de Outubro, onde se formou contador. Cursou a Faculdade de Ciências Econômicas e Finanças de São Paulo, formando-se economista em 1946. Trabalhou na Torrefação e Moagem do Café São Caetano e no Armazém de Secos e Molhados Três Irmãos. Em 1948, passou para a adminidstração pública do município de São Caetano do Sul. Em 1965, atuou no projeto municipal "Cidade onde escola não é problema", em São Caetano do Sul. Em 1968 participou da fundação do Instituto Municipal de Ensino Superior (IMES) e foi seu primeiro diretor. |
|
Pergunta: Por favor, comece pela data e local de seu nascimento. Fale como foi a sua infância em São Caetano.
Resposta:
Nasci no dia 26 de novembro de 1926 e estou com quase 79 anos e passei toda a minha vida nesta cidade. Não morei em nenhum outro lugar e me considero um cidadão Sul São-caetanense, sem falsa modéstia, que procura sempre estar em contato com os Poderes constituídos, sejam os políticos, os administradores sociais e comunitários, para colaborar, sempre que possível, de acordo com a minha capacidade e disponibilidade, para sempre melhorar as condições de vida desta cidade, que nós sabemos, acaba de ser escolhida, outra vez, como a melhor cidade pela ONU. É uma manchete que vi na Revista Livre Mercado que recebi hoje. Não li a matéria, mas diz que outra vez São Caetano é campeã. Isso é produto de uma plêiade de Sul São-caetanenses, às vezes que não nasceram em São Caetano, mas se integraram à cidade, à sociedade, e laboriosamente, com muito caráter, honestidade e dedicação, nesse passar de tempo, desde a sua autonomia, que foi em 1948, transformou São Caetano nessa cidade premiada quase sempre pela ONU.
Pergunta: Vamos contar um pouco do cotidiano desta cidade. O senhor nasceu em 1926 e na década de 30 o senhor era um menino. Dá para contar como era o cotidiano, para a gente acompanhar o desenvolvimento?
Resposta:
Eu fui aluno da primeira turma do Externato Santo Antônio. Eu devia ter entre 3 e 4 anos. Não sei precisar a data, mas tenho de voltar lá e até prometi ao Externato voltar lá para contar um pouco da história, mas até agora não tive tempo. Lembro perfeitamente que nós vestíamos um avental azul listrado, e era bem perto de onde eu morava. Eu morava na Rua João Pessoa e o Externato ficava na Rua Manoel Coelho, esquina com Rua Conde Francisco Matarazzo. Não dá para lembrar muito porque quanto mais a gente fica velho, vai tendo mais idade, fica mais difícil lembrar as coisas do passado. Lembro que quando fiz a primeira comunhão nós fomos tomar café da manhã lá, depois um lanche. Lembro que quando havia aquelas festas religiosas para as crianças, a reunião era feita lá, de lá nós saíamos de mãos dadas, as crianças, até a Matriz da Praça Cardeal Arco Verde. O que lembro dessa época é só isso.
Pergunta: O senhor estudou lá até a quarta série e depois continuou o ginásio?
Resposta:
Eu saí de lá e com 6 anos fui estudar no Grupo Escolar Senador Fláquer, onde fiz o meu curso primário. Terminado o curso primário em 1930, São Caetano não tinha naquele tempo um ginásio, escolas de segundo grau. Eu fui para o Brás, para a Escola de Comércio 30 de Outubro cursar a carreira de perito-contador. Naquele tempo tinha essa carreira. Eram sete anos, três anos de preparação e quatro anos para pegar o diploma. Eu acabei o meu curso lá e continuei naquela escola, porque eu fui da segunda turma, não sei se do Brasil ou do Estado de São Paulo, do Instituto de Ciências Econômicas, na Faculdade de Ciências Econômicas e Administração de São Paulo, na Rua Oiapoque, no Brás. Era uma extensão da escola de comércio. Tive colegas naquela época que foram para o Liceu São Paulo, também fazer o curso de técnico de contabilidade. Mas eu preferi ficar perto da estação, então eu descia do trem e mais 100 metros eu estava na escola. No começo eu ia de calça curta, fazer curso superior de calça curta. Naquele tempo se usava. E tinha colegas meus de São Caetano, que também estavam lá, que diziam que se eu fosse de calça curta eu não ia estudar mais, porque eles já eram moços. Eu era muito jovem. Eu sempre tive uma continuidade na minha vida, nunca parei, nunca dei espaço para o tempo. Estava sempre à frente do tempo.
Pergunta: E o senhor saiu do Brás e foi estudar onde?
Resposta:
Eu era muito jovem e já estava ficando difícil. Eu ia porque ajudava o meu pai a vender café. A gente teve a primeira torrefação de café, meu pai, e eu ia ajudar meu pai, com 7, 8 anos. Eu já ia ajudar meu pai a entregar o café nas vendas. Naquele tempo não existia supermercado ou hipermercados e era vendinha, armazém. Tinha muitos armazéns de secos e molhados. Já tive um também. Eu ia ajudar meu pai a vender café. Eu carregava sete quilos e meio, meia arroba. Era um sucesso para um garoto.
Pergunta: Quando o senhor era garoto foi bem no tempo do problema do café, da queda da bolsa. A sua família sentiu?
Resposta:
Nesse tempo não. Isso foi em 1930.
Pergunta: O senhor não falou que tinha 7 anos? Devia ser em 1932, 33, não era?
Resposta:
Falando em café eu tenho outro episódio, já em 1946 ou 47, quando eu me emancipei. Meu pai me emancipou com 18 anos e eu comprei a torrefação que tinha sido dele, porque ele ficou doente e vendeu e eu comprei. E nessa época, era 1945, aí sim, porque era o período de Getúlio Vargas, e os depósitos de café, os armazéns gerais de café eram na Vila Prosperidade, ali se queimava muito café e o cheiro ficava insuportável. O ar era terrível, porque aquela fumaça do café incomodava muita gente.
Pergunta: Era a fruta que eles queimavam?
Resposta:
Era o café que não era exportado. Precisava queimar para não deixar o preço cair. Há uma história que ele trocava café por fortalezas voadoras, aqueles aviões antigos. Nessa época eu já era formado em economia, em 1946, e escrevi um artigo para o jornal de São Caetano criticando o nosso querido ditador Getúlio Vargas, o pai dos pobres. E não publicaram e nunca mais escrevi nada.
Pergunta: A empresa do seu pai era grande?
Resposta:
Era uma torrefação de café pequena, que servia a São Caetano. Quantos habitantes, em 1948? Uns 15 mil? São Caetano é São Caetano desde 3 de abril de 1949. Esse dia é o primeiro dia da liberdade político-administrativo-financeira do município, quando se desligou definitivamente de Santo André. São Caetano começou a crescer daí e é o que é hoje. Você não pode imaginar a diferença, o divisor de águas que foi essa autonomia. O que era São Caetano antes e o que é depois da autonomia.
Pergunta: O senhor trabalhou nessa autonomia?
Resposta:
Trabalhei nos bastidores. Eu tinha meu grupo de amigos que trabalhava. Eu não estava na linha de frente, porque era a minha mãe que fazia parte da Comissão de Senhoras, ela e as amigas dela, tanto que ela foi agraciada com o título de Cidadã Sul São-caetanense e Livre Autonomista. São dois títulos. Quando tem festa de autonomistas aparece o nome dela, dona Helena Carizato Musumeci. Aparece sempre. Ela recebeu muitas homenagens. Eu tenho, entre os meus troféus, do tempo que cuidava do esporte, meus cartões de prata, etc., eu tenho um lugar reservado às homenagens que minha mãe recebeu e eu sempre representei a família, apesar de ser o filho número dois.
Pergunta: Eram quantos?
Resposta:
Quatro: três homens e a caçula é uma mulher. Eu não trabalhei na linha de frente. O Walter Tomé e o Mário Rodrigues, que fundaram o Jornal de São Caetano, que fez a defesa da autonomia, eles eram meus amigos de turma. Não sei por que, às vezes me pergunto, não estava lá? Eu estava todo dia com eles. Acho que é porque eu já trabalhava e eles não. Minha mãe, no Hospital de São Caetano, também pertenceu à comissão das mulheres que faziam o chá. Lembro que minha mãe fazia chá, quermesses. Tenho fotos provando tudo isso. Foi tudo em 1948, 49.
Pergunta: A sua família é italiana?
Resposta:
Meu pai era italiano e minha mãe era filha de italianos.
Pergunta: Eram italianos que vieram para cá? Quando?
Resposta:
Meu pai morreu muito cedo e não lembro direito da história dele porque ele morreu quando tinha 52 anos, mais ou menos. Não gosto de falar em datas porque faço confusão. Meu pai veio como imigrante e foi para Ribeirão Preto, ele, os pais e mais um irmão. E o irmão dele foi para a Itália defender o país na guerra de 1914 a 1918 e não tiveram mais notícia dele. Meu pai veio para São Paulo, estabeleceu-se na Rua Rangel Pestana, no Brás, depois veio para São Caetano e montou a torrefação de café dele aqui, tinha lá e transferiu para cá, a primeira de São Caetano. Tenho os clichês dos pacotes de café que a gente fazia. O clichê era em chumbo, tipograficamente, mas hoje tem essas rotativas. Está na Fundação Pró-Memória, deixei lá. Ele foi morar na Rua Primavera, aqui na Vila Bela, na divisa. Depois ele construiu um sobrado na Rua João Pessoa, para onde transferiu a torrefação de café e foi morar lá.
Pergunta: Depois que o senhor assumiu a torrefação, como foi que o senhor prosseguiu?
Resposta:
Voltando à queima do café, o Departamento Nacional do Café instituiu cotas para as torrefações de café. A mim couberam 124 sacas. O que fazia? Eu que torrava, vendia e fazia a escrita fiscal, porque já era contador. Só de 124 sacas. Eu trabalhava 15 dias e 15 dias ficava sem trabalhar. Só tinha matéria-prima para 15 dias. Eu me aborreci e vendi para os fazendeiros.
Pergunta: Foi trabalhar onde?
Resposta:
Eu fiquei uns tempos vagando, descansando e não fazendo nada. Eu comprei um armazém de secos e molhados na Rua Amazonas nº 1007 e eu e meu irmão colocamos o nome de Armazém Três irmãos. Eu começo a contar da minha vida e não é isso que vim fazer aqui. Se eu contar da minha vida fico até amanhã.
Pergunta: Daqui a pouco a gente chega nos anos 60 e o senhor fala da sua participação na Prefeitura.
Resposta:
Vamos para o último capítulo da minha vida pessoal. Eu gostaria de falar só da minha vida pessoal também. Eu tenho de escrever um livro qualquer hora. Todo mundo me pede para escrever, mas sou preguiçoso. Aliás, eu podia sempre ficar contando uma história, mentindo para mim mesmo no gravador e depois pedir a alguém capacitado para escrever. Então eu comprei esse armazém, mas quando eu tinha a torrefação de café, a gente ia aos armazéns na Pires do Rio, no Pari, nos armazéns gerais, para pegar café e levava na cabeça. Quando comecei o armazém, eu estava acostumado, mas meus irmãos não estavam. Eles se cansaram e foram embora e me deixaram sozinho. Eu comprei esse armazém de um amigo do meu pai, José Massei. Meu pai ajudava muitos comerciantes, na época. Ele sempre teve recursos e emprestava dinheiro sem juros. E esse José Massei estava cansado do armazém e me ofereceu. Ele depois começou a fazer pressão, porque ele queria recomprar o armazém. Era costume dele. Depois eu vendi para ele, mas eu já estava sozinho. Eu tinha de carregar saco de feijão na Ana Rosa. Naquele tempo não tinha caminhão, não tinha indústria automobilística, então eram carros importados, que a gente comprava de segunda mão. Eu não sei se já eram importados carros usados, porque não se via carros. Era aquele bauzinho, mas não lembro o nome. Uma vez fui até Sorocaba. Naquele tempo não tinha a Castelo Branco, e era estrada de terra. Esse foi um capítulo. Fui buscar cal. Fui descarregar um galão de cimento ali no Pari também. Era café numa ocasião, cal e cimento em outra. Fardo de alfafa pesava 50 kg, mas não se assuste porque era garoto, tinha 20 e poucos anos. Mas o fardo de alfafa se equilibrava tão bem, hoje nem tem alfafa, mas a gente não sentia o peso.
Pergunta: O senhor fazia exercícios para manter o físico legal ou o exercício era esse mesmo?
Resposta:
Era esse mesmo. Depois eu tive uma rede de lojas de eletrodomésticos, Lojas Copagel. Aí era carregar geladeira, fogão, televisão. Sempre fui assim. Não vou contar que fui dono do Banco Real de Progresso, da Financeira Real Sul, de uma galeria de arte, também sócio de uma rede de supermercados.
Pergunta: Nós vamos marcar um outro dia para o senhor contar disso tudo.
Pergunta: E como foi o seu envolvimento com a administração da cidade, a rotina da cidade, até o senhor chegar à Secretaria da Fazenda do Braido?
Resposta:
Eu já era economista desde 1946 e o guarda-livros, não era contador, do meu armazém se chamava Daniel Jardu. Quando o Ângelo Rafael Pelegrino assumiu a Prefeitura, convidou o Daniel para ser Diretor da Fazenda. Hoje falam que é Secretário de Finanças, mas é a mesma coisa. O que fez o Jardu? Ele ficou falando que o Pelegrino queria falar comigo. Eu fui lá e ele me convidou a ajudá-lo na administração. Sua mãe já ajudou. Meu pai não ajudou porque já tinha falecido. Sua mãe ajudou, fez isso e aquilo, agora é a sua vez. Então eu aceitei. Ele me mandou prestar concurso. Eu não fui o primeiro, mas o segundo, porque eu não sabia escrever à máquina. Eu carregava saco de açúcar, de feijão e não sabia escrever. Mas eu cheguei lá e tomei conta da Prefeitura, porque eu tinha conhecimento por causa dos cursos que fiz, que eram relacionados com finanças públicas. E naquele tempo quem tinha um olho, na terra de cego, é rei. Eu sabia. Dizem até que eu fui o primeiro filho de São Caetano, apesar de ser solteiro... Começo a brincar para ficar liberado emocionalmente. Fui o primeiro filho de São Caetano a terminar o curso universitário. Dizem que fui o primeiro. Tenho um recorte do jornal falando de mim. Está bem amarelo o jornal, mas está guardado. Eu fui agraciado, eu e meus colegas de turma da Faculdade de Economia e Administração de São Paulo como pioneiro dos estudos de ciências econômicas do Brasil. Por isso que tem o IMES. Começo a me emocionar. Contando a história da Prefeitura, eu fui lá e tomei conta. Eu fui o único funcionário de São Caetano do Sul que teve a honra de ter um Prefeito que mandou um projeto de lei para a Câmara Municipal para conceder uma gratificação em dinheiro para um funcionário da Prefeitura. Naquele tempo não tinha esses cargos tão significativos e eu prestava um serviço muito mais importante do que o padrão que eu recebia. Esse é outro orgulho que tenho, do Pelegrino ter feito isso. Tenho até um prontuário na Prefeitura, uma certidão.
Pergunta: Ele foi o primeiro Prefeito?
Resposta:
O primeiro Prefeito de São Caetano, Dr. Ângelo Rafael Pelegrino. E foi num crescendo.
Pergunta: Logo depois da autonomia o senhor já estava na Administração?
Resposta:
Não foi no dia 3 de abril de 1949, porque o primeiro dia, mas estava ajudando lá. Independente de honorários, eu já estava ajudando. A pedido dele, porque sou amigo dele e do filho dele até hoje. Nós nos admiramos mutuamente. Eu fiquei ajudando sem honorários. E fui num crescente, cada vez sabendo mais. Eu tenho anotado a seqüência dos Prefeitos, porque eles assumiram uma, duas, três vezes, e você não recorda exatamente o ano. O Campanela foi eleito, mas ele convidou um colega meu que se formou como perito contador comigo, porque ele era de outro grupo político, mas eu estava na Prefeitura, que era o Flávio Fernando. Mas ele falava que o diretor da fazenda era o Cláudio e mandava falar comigo. Ele me dava uma chave e a caneta. Por isso que eu fui crescendo. Depois o Massei se elegeu Prefeito e aí sim fui ser Secretário de Finanças no primeiro mandato e no segundo não fui. Depois o Braido se elegeu e eu fui Secretário de Finanças e no segundo mandato nós constituímos o IMES e no terceiro mandato eu não fui. Essas coisas, não se conta.
Pergunta: E a GM? Foi na década de 50 que ela chegou?
Resposta:
É minha contemporânea. Eu nasci em 1926 e eles vieram para cá em 1927. Eles já estavam no Ipiranga.
Pergunta: E aqui em São Caetano, comprando a sede de São Caetano, foi mais tarde. O senhor acompanhou isso?
Resposta:
Sem dúvida. Eu fui dono das Lojas Copagel e me concederam a concessão da distribuição da Geladeira Frigidaire. Essa marca foi vendida para a Brastemp, para sair do mercado.
Pergunta: Era essa GM daqui que fazia essa geladeira?
Resposta:
Era aqui. A minha empresa foi quinta revendedora Frigidaire da época. Perdi para São Paulo, para o Rio de Janeiro, para Recife e Santos. Mas a minha firma tinha, tanto que não quis vender a marca e tenho outra empresa muito grande que quis comprar a minha marca e não vendi. Tenho até cartões e essa marca não vendo. Tenho muita coisa guardada em casa que vai servir para o museu. Já prometi para a Sônia mandar para lá. Não fui o quarto por quê? Porque em Santos houve o boom de construção de apartamentos naquela época. Inauguravam um prédio por dia, por força de expressão, e alguém precisava comprar geladeira. Então, compravam geladeira lá em Santos. Eu entreguei muita geladeira em Santos.
Pergunta: O senhor só foi o quinto porque São Caetano era pequena.
Resposta:
Ou eu seria como as Casas Bahia hoje, do meu amigo Samuel Klein. Outra vez eu conto histórias desse meu amigo.
Pergunta: Como foi essa gestão do Braido, na década de 60, que começou a construir escolas?
Resposta:
Essa segunda gestão do Braido, a primeira foi boa porque eu geri as finanças, na primeira do Massei fui eu, na primeira e na segunda do Braido também, na terceira não falo porque não trabalhei. A primeira foi muito boa, onde nós fizemos todas as tubulações de esgoto, a rede de água e esgoto, e na segunda gestão nós cuidamos do ensino. Na primeira ele cuidou do projeto sanitário de São Caetano, que era a falta de esgoto e água e a segunda administração nós reservamos para cuidar da educação. E o slogan da administração naquela gestão era "Cidade Onde Escola Não é Problema". É sempre repetida por aí. O Oscar Garbelotto vai falar, o Sílvio Minciotti também, o Moacir Rodrigues. Esses caras foram todos meus sucessores no IMES. Fizemos a Fundação das Artes. Fizemos convênio com a Faculdade de Serviço Social. Tinha um anexo da ESAN numa escola municipal na Cerâmica, uma sala. E os alunos, até encabeçados pelo Sílvio Minciotti e mais alguns alunos, vieram fazer um movimento para acoplarmos, ao invés de ser um anexo da ESAN, de ser um quadro integrante do IMES. Nós conversamos com o Padre Mário, que era o responsável pela ESAN, e nós integramos esse anexo, onde apareceu o curso de administração. Depois nós contatamos o Padre Mário para trabalhar e ele foi professor aqui.
Pergunta: Mas antes de fazer a incorporação da escola de economia, por que a Prefeitura decidiu fazer o convênio com a ESAN?
Resposta:
Porque não tinha. Esse grupo de estudantes de São Caetano tinha dificuldade de se locomover. E como já tinha uma faculdade de finanças aqui, porque não uma de administração? E como era intenção da Administração Braido, e eu e Oscar Garbelotto, que era Secretário de Educação, o Professor Dario, que depois foi genro do Braido e trabalhou na educação, com o nosso esforço nós conseguimos integrar a ESAN na nossa faculdade. Aqui foi criada a Faculdade de Economia e Ciências Políticas e Sociais, mas tinha um problema com filosofia e também não tinha demanda.
Pergunta: Problemas políticos por causa da época?
Resposta:
Também. Mas não foi o principal. Aliás, não foi no meu tempo que foi extinta a Faculdade, mas depois.
Pergunta: Foi bem depois, no final da década de 70.
Resposta:
Já não era por causa da política. O problema político apareceu muito tempo depois. Na nossa época, não. Aí mudou para IMES, Instituto Municipal de Ensino Superior, e fiquei contente, porque não é mau uma faculdadezinha, uma escolinha, mas uma universidade. Você vê com orgulho por ter plantado uma semente e ver crescer. Eu fico emocionado. Hoje é uma universidade e os atuais dirigentes, até os antigos que fazem parte daqui, sempre me convidam para participar de todos os eventos e aproveito a oportunidade para agradecer sinceramente a atenção que eles me dão sempre.
Pergunta: E a Fundação das Artes?
Resposta:
A faculdade era para ser lá na Fundação das Artes. Mas surgiu a idéia das artes com o Sr. Milton de Andrade. Ele contou isso?
Pergunta: O senhor o conhece de onde?
Resposta:
Da Fundação das Artes.
Pergunta: Ele foi trabalhar na Prefeitura?
Resposta:
Foi ser o diretor da Fundação das Artes, ou do conselho. Mas como tinha a caneta e o dinheiro não mão, estava em todas. Ele é meu amigo de muitos anos, até hoje. A gente faz parte do conselho deliberativo da Revista Livre Mercado, e estamos sempre juntos. Nos encontramos, nos abraçamos e ficamos sempre lembrando de tudo aquilo, de como foi comprado o primeiro piano para a Fundação das Artes. Tem até uma história nisso. O primeiro maestro contratado. São histórias. Era para ser lá a Faculdade de Economia. E surgiu a Fundação das Artes porque não sabíamos onde iríamos colocar. Era o Grupo Escolar Anacleto Campanela, escola de primeiro e segundo grau. O endereço dela é Rua Pascoal Walter Bare Juliane esquina da Visconde. Tem uma história interessante. Era uma escola de primeiro grau e os vasos sanitários eram para crianças e você imagina aqueles homens grandes, enquanto começamos a construir aqui. Nesses quatro anos nós construímos. Não dá para precisar a época de um e de outro, mas depois viemos inaugurar aqui e a aula inaugural foi dada pelo Dr. Hilário Torlone, que era Vice-Governador do Estado, nas dependências da Câmara Municipal de São Caetano do Sul. Está bem documentado isso, mas não tenho as coisas muito organizadas. Minha mulher fala que sou organizado na empresa, mas em casa não. Não dá tempo. Também fico tão pouco em casa. Eu tenho reunião toda noite.
Pergunta: Como foi o período do senhor como diretor do IMES? O senhor saiu da Prefeitura?
Resposta:
Não. Fiz as duas coisas e mais algumas. Era diretor-geral de Esportes de São Caetano, com aquela equipe da Marlene, Norminha e Jaci, que foi heptacampeã paulista de basquete feminino, vice-campeã do mundo no Ibirapuera. Mas aí reunia com a Nilza e a Laís de Santo André e faziam a seleção brasileira. Elas eram boas atletas. Eu vim para cá porque tive de montar isso, comprar os móveis, admitir os professores e os funcionários. Não tinha esse negócio de conselho administrativo. Era o primeiro diretor pela nomeação do Prefeito. Fiquei aqui mais de um ano, porque o Braido foi convidado, nós terminamos a segunda gestão e ele em seguida foi convidado pelo Governador Abreu Sodré para assumir o cargo de Superintendente da Fundação do Fundo de Melhorias das Estâncias Paulistas. Eu fiz um carnaval. É que todos esses meus contemporâneos já morreram e só eu estou vivo para contar a história. E ele me levou para lá, porque ele precisava de mim porque eu tenho experiência no cargo. Ele me levou para lá e o Moacir ficou bravo comigo e começou a me pressionar. Aí o Braido me largou lá, me tirou daqui, que nunca queria ter saído do IMES, que era a minha criatura, meu filho querido.
Pergunta: Como eram as finanças do IMES? A primeira turma não pagou?
Resposta:
Foi com o intuito de não pagar. Agora, na segunda turma, se é tudo de graça não tem valor. Isso não é só aqui, mas em qualquer setor. O interessado tem de contribuir, nem que seja com um valor simbólico, como foi aqui, que eram 50 reais, não sei qual moeda era na época. Era simbólico, mas para dar valor ao que era dele, porque ele estava pagando e tinha cuidar das instalações. Se bem que naquele tempo não existia o vandalismo que existe, acredito que não existe hoje, mas o pessoal era mais consciente do que hoje, porque trabalhavam, tinham de carregar a família nas costas, mesmo não sendo chefes de família. Não sei quando mudaram os valores, porque eu saí em seguida.
Pergunta: Era só para a primeira turma ou o primeiro ano ou para todos?
Resposta:
Para todos. Ia ser gratuito. Os jovens reivindicam até hoje, querem estudo de graça porque é dever do Estado dar cultura e informação para o povo. Mas o Estado não faz mais nada. Quando digo Estado estou falando dos três níveis, Prefeitura, Governo do Estado e Presidência da República.
Pergunta: As finanças já não são as mesmas?
Resposta:
Quando eu fazia os orçamentos, e fiz 21 orçamentos para a Prefeitura de São Caetano nesses 50 e poucos anos de São Caetano, 14 como titular absoluto. Mas você precisa saber gastar o dinheiro. Precisa ser pão-duro. Tem de ser miserável, porque não dão valor. É da Prefeitura, do povo, do imposto, então não dão valor. Eu disse recentemente que no meu tempo a proporção era 33% para pessoal, 33% para custeio e 33% para investimento. Essa era a minha tabela, e sobrava 1% para jogar fora. Está vendo como perdulário? Então, administrava assim e tinha dinheiro para tudo, com critério e honestidade, principalmente. Vejam o que está acontecendo com o Brasil. Eu sou empresário desde os 18 anos, já falei, mas eu nunca torci para que um político contrário aos meus sentimentos não desse certo, porque Lula dando certo, dá certo o Brasil. Dando certo o Brasil, dá certo para a economia e dando certo para a economia, dá certo para os empresários. Queremos que dê certo. Os empresários não torcem contra, de jeito nenhum. Isso ficou claro ontem em Campinas. O CIESP, e sou diretor titular da diretoria aqui, me reuni com mais sete companheiros e fomos para Campinas nos reunir com os diretores de 41 diretorias regionais do estado de São Paulo e sabe quem estava lá, nesse que foi o primeiro de uma série grande encontros do Centro das Indústrias com os partidos políticos, e isso estar agendando antes do aparecimento da crise, e foi lá o PFL, que é um ferrenho adversário do Governo, mas ficou claro que o empresariado não quer a derrubada, e o PFL também, pela palavra do seu Presidente Nacional, que estava lá, não quer derrubar Lula. Lula foi vendido pelos seus companheiros. Se ele tiver culpa, é pequena, porque com o conhecimento que teve, ele contemporizou, foi conivente. Essa é a idéia geral, o sentimento do empresariado, que Lula deve permanecer e tentar se recuperar. Tem mais um ano e meio. Ele tem condições. Se souber trocar bem os auxiliares, mas me parece que não. Até o próprio PMDB já brigou entre si. Não queremos isso. Esses três que vão assumir agora já foram desligados do PMDB. Você pode ir para frente? Não pode. Como o Governo trabalha se não tem uma sustentação rigorosa, firme e forte? Nós torcemos por Lula para que dê certo, sempre torci. Sou amigo do irmão dele, o Frei Chico, estou quase que diariamente com ele, que mora aqui e convive com a gente em momentos de lazer. Eu sempre repito que talvez o irmão dele não saiba, mas deu no que deu, venderam mesmo.
Pergunta: Estamos chegando no final. O senhor quer falar um pouco mais do seu trabalho?
Resposta:
Eu volto outra hora. Eu não queria vir hoje, mas entendi.
Pergunta: Como foi a escolha dos professores e dos profissionais aqui no IMES? Já eram profissionais de outras faculdades, ou da própria ESAN?
Resposta:
Não lembro de todos. Eu posso lembrar do Júlio Gomes Bera, que foi meu contemporâneo de faculdade, Dr. Jacob Sverb, que foi parente do Sverb, que foi diretor de obras por muito tempo em São Caetano, do Fernando Couto. Algumas foram por indicação, outros porque conhecia, que eram professores de cursos universitários. O quadro era pequeno, com 10 ou 12 professores.
Pergunta: O senhor escolhia o nome ou apresentavam o nome e o senhor aprovava?
Resposta:
Como era a primeira vez, tudo era novidade e você não tinha um histórico. Mas a gente sabia das informações dos professores, da capacidade deles.
Pergunta: Foi também a época do professor Laurito, da professora Neide?
Resposta:
A Neide sim, porque ela era esposa do meu vice-diretor, que era o Celso Sebastião de Souza. Excelente pessoa, que saiu brigado com a turma que acabou me sucedendo. Eu acho que o Celso estava certo, mas a Neide eu lembro. Você sabe, não é porque só tem de pegar gente muito capacitada, mas você pega um capacitado, outro um pouco menos capacitado que é para dar chance. Eu sempre fui favorável a renovar. Eu estou assumindo um cargo agora no hospital de São Caetano, que nunca quis, porque me convidaram para a mudança de estatuto. Falei que tem um problema sério no hospital. Não pode ter uma continuidade tão grande no hospital. Esse que saiu agora, que morreu recentemente, mas saiu antes de morrer, que é amigo do Prefeito, ficou por mais de vinte anos. E acabou colocando a família dele, tem uns que não são... Tudo bem. Não tem aquele espírito público que todos têm de ter. Eu assumi o cargo com a condição de ter eleição a cada três anos e uma renovação, depois não tem mais, e me convidaram para ser o gestor, porque não podia ser outra função. Presidente da comissão gestora da auditoria das contas, porque ia mexer com dinheiro e sempre fiz isso. Eu estou lá e esse Presidente atual já ficou um período como diretor. Hoje não tem mais cargo de diretor, de tesoureiro, mas são gestores. Na posse que nós tomamos outro dia, ele disse que esse é o segundo mandato dele. Ele já contou o passado, então daqui três anos ele sai realmente. Foi aí que aceitei.
Pergunta: O senhor lembra da escultura, quando foi esculpida a estátua de São Pedro?
Resposta:
Eu lembro porque dei o dinheiro para pagar a tora. Essa tora veio em uma jamanta lá do Mato Grosso, de Ponta Porã.
Pergunta: O senhor lembra o valor?
Resposta:
Posso até olhar na Prefeitura, porque tem de ter o processo lá. Não devia ser caro, porque não era essa devastação. Encarece cada vez mais porque não há a renovação dessas madeiras de lei.
Pergunta: Mas era um preço razoável?
Resposta:
Não devia ser barato, mas nada mais do que era o valor. Quem patrocinou, isso é força de expressão, foi o professor Alécio Trabelli, que era dono de um jornal de São Caetano e era chefe do setor de comunicação da Prefeitura. Ele estudou em seminário e já faleceu e tomava cerveja sem gelo. Ele fez isso, fez a doação para o Papa da época.
Pergunta: Acho que era Paulo VI.
Pergunta:
Ele fez a doação, mas houve um problema de transporte e ela acabou ficando aqui e fiquei sabendo, quinze dias atrás, que sumiram com a estátua. Digo mais, fui na inauguração da Fonte da Amizade e me disseram que um artista de Santo André, Salazar, tem o molde dessa estátua em gesso. Quando precisar fazer outra estátua igual, é só passar lá no Salazar que ele tem os moldes. Ela foi restaurada uma vez. A gente fica sabendo de algumas coisas, mas não acompanho tudo isso.
Pergunta: O senhor lembra qual o número de alunos por sala quando foi inaugurado o IMES?
Resposta:
Olha, depois eu tomei conta do Alcina Dantas Feijão, uma escola, era vereador e fiquei seis anos lá, não passava de 35 alunos. Era assim antigamente, nada mais que 35 ou 40. Quando fui para o Alcina Dantas Feijão, eu criei o magistério, que não tinha. Aquelas mulheres do bairro estavam brigando. Não tinha o primeiro grau, porque era só o segundo grau. Eu cheguei a fazer, na quinta e sexta séries, quase no fim, no quinto ano que estava lá e no sexto ano me mandaram embora, ele tinha razão, porque eu tomava as decisões que eu achava justas e era véspera de eleição e eu mandei um professor embora e o professor foi chorar lá. Eu fui embora em agosto e em dezembro terminava o mandato, porque em outubro era a eleição. Botaram outro em meu lugar. Já disse, antes de começar a gravação, que não era político. Se fosse político, tinha sido Prefeito de São Caetano umas trinta vezes. Eu sou mais um profissional e me realizo profissionalmente quando assumo essas funções. Sou mais um executivo do que um político. Eu criei a fanfarra, o curso de magistério, curso de informática. A minha maior satisfação foi criar o tempo integral para a quinta e sexta séries, no quinto ano que estava lá. Aí o Tortorello entrou e cortou. Não podia dar a razão a mim.
Pergunta: O senhor estava na Secretaria de Educação?
Resposta:
Não. Nunca fui da Educação, sempre das Finanças. Aí eu já era vereador, no terceiro mandato do Braido que fui mandado embora.
Pergunta: A gente pede para a pessoa deixar registrada alguma mensagem que as pessoas possam ouvir mais tarde.
Resposta:
Quero começar do começo. Quero deixar um agradecimento ao Prefeito Braido, que sempre me prestigiou, sempre me acumulou de gentilezas e cargos de evidência na administração, me deu a oportunidade de criar o IMES, de ser o primeiro diretor do IMES e agradecer também aos que me sucederam nessa diretoria, porque todos eles trabalharam, um acertando mais, outros acertando menos, mas todos eles trabalharam para o crescimento do IMES, e nesses últimos anos, o professor Marco Antônio, e o beneplácito dos Prefeitos Dallanese e Tortorello, que deram condições financeiras e físicas para o IMES crescer, porque se a Prefeitura não der condições, não acontece nada. É certo que o IMES, com esse número grande de alunos, porque o que faz uma universidade grande é o número de alunos também, número e qualidade dos alunos, porque com a arrecadação que tem, tem a oportunidade de promover todos esses investimentos que tem feito. Agradecer a vocês, que me convidaram para ter a oportunidade de dizer alguma coisa do IMES, de mim pessoalmente e que fique registrado para meus netos, que já tenho, mas para bisnetos, tataranetos, que um dia cheguem aqui e não vão a Fundação Pró-Memória, mas venham aqui pedindo alguma história do tataravô deles. Quero agradecer ao povo de São Caetano também, que é um povo consciente das suas responsabilidades, é uma cidade boa. Quero agradecer àquele que nos dirige lá de cima e que me deu oportunidade de fazer tudo que fiz, sem procurar o benefício próprio, para a cidade de São Caetano, quer na área de saúde, de educação, nos esportes, nas finanças e em outras áreas. Não sei dizer não para ninguém. Estava constrangido de não poder vir aqui hoje e ia ficar mais doente do que estava se não pudesse vir aqui. Não digo não para ninguém. Muito obrigado.